sexta-feira, 19 de abril de 2013

In Sana...



Você já chorou de verdade por sentir angústia? Você já chorou de verdade quando olhou pela janela e percebeu que o céu continua lá em cima como sempre esteve e sim sim há luzes por toda a cidade à noite boiando no espaço escuro da noite como uma imensa galáxia que jaz tranquila no espaço, tudo está no seu lugar mas tudo agora é diferente. É quando você se lembra de como as coisas costumavam ser mas agora tudo aquilo que existia antes está tão distante, tão distante...

Deve ser a mesma sensação de se olhar pela janela de uma nave espacial e ver a terra lá longe e sentir um misto de maravilha com vertigem e espanto por ter a noção do espaço entre você e o chão... também é assim com tempo no lugar do espaço.

Eu costumava me sentar quieta em meu canto e em meus pensamentos e aprisionada em minha cela de chumbo para observar as pequenas ondinhas do mar na praia, e quieta e insana eu ficava ali perdida em meus pensamentos e ninguém ao meu redor tinha capacidade de sequer desconfiar ou sentir as palavras que eu escrevia em minha alma e traduzir o meu silêncio e a minha insanidade em algo que tivesse algum sentido, mas eu sempre estive ali, quieta calada e aprisionada até o dia em que eu percebi que estava morta e que seria para sempre a inexistência e a dor se eu não me levantasse do meu canto e não explodisse as paredes daquele lugar, que na verdade era o meu túmulo e a minha prisão porque eu estava morta, sufocada, enterrada, cansada de verter sangue por meio das minhas feridas e desesperada porque a minha criança estava se tornando transparente em minha visão, eu precisava existir de verdade!!! Eu precisava derrubar as paredes de chumbo que me impediam de respirar, era tentar isto, ser corajosa, encarar de frente e empunhar as minhas armas, me tornar guerreira e me pintar com a pintura de guerra, disposta a tudo, OU MORRER! Mas morrer, eu já estava morta mesmo, o que eu tinha a perder? Porque protelar mais a minha entrada no campo de batalha e travar a minha luta se eu já não tinha mais nada a perder...

Você não sabe!!

Você nunca soube!! Você nunca conseguiu entender como as palavras escritas acima são reais!! Não são figuras psicodélicas de um delírio qualquer, são a tradução em palavra de cada pingo de realidade que aconteceu comigo, você não sabe o que aconteceu comigo, você nunca soube das minhas dores, e não eu nunca falei das minhas dores porque eu mesma me perdi na dor, eu me perdi na loucura de tentar matar a mim mesma para não sentir dor mas a dor era justamente porque eu estava morrendo, você nunca soube, você não se preocupou em me ouvir.

Sabe eu tenho de te dizer que eu não entendo o que está acontecendo agora!! Não, eu não entendo, eu não entendi, tá bom???

E eu tenho de te dizer também que eu ainda me sinto com muita raiva!! Com muita raiva porque um dia você me disse que nunca viraria as costas para mim e você virou as costas para mim, quando eu mais precisava de você!! Sim, eu tenho raiva ainda, e é de você, porque palavras foram ditas entre nós, e porque de todas as presenças você era a mais especial para mim!! E eu não esperava ver tanta fragilidade em uma amizade que para mim era tão cara, e rara!! Eu me senti traída!! Me senti esfaqueada pelas costas, mas sabe naqueles dias era uma simples e cruel questão de morte, ou vida... Uma simples e real questão de apostar as últimas cartas para me livrar da dor, da morte, do sangue que sempre jorrou dentro de mim, de costurar com agulha e sem anestesia os cortes abertos e as feridas apodrecidas, ou então de fato vivenciar a minha última e verdadeira morte, e eu derramei muitas lágrimas de tristeza naqueles antigos céus de neon, mas eu tive de continuar em frente, eu tive de continuar a caminhar, eu tive de tentar viver, eu tive de descobrir dentro de meu coração um grande e imenso amor... por mim.. por eu mesma, para tentar sobreviver ao desastre, à toda a catástrofe que aconteceu comigo, e você nunca soube disto, você se recusou a saber, você se recusou, e isto é o que me deu mais raiva de você...

O tempo passou, e hoje há um oceano de silêncio entre nós, é como se tivéssemos ido cada um para um canto do mundo. Hoje o céu tem outra cor, sabe? Eu lamento por este silêncio, e quando paro para pensar não deixo de sentir saudade do céu e das coisas como elas costumavam ser, de outros tempos, de outras baladas, de outras músicas, de momentos que ficaram registrados para sempre nas páginas das minhas memórias, eu fecho meus olhos e vejo batalhas e risadas que aconteceram e ficaram para sempre em minhas memórias...

Mas sabe? Aqui deste lado do mundo onde eu estou é um lugar muito bom, sabe aqui há luz, muita luz, aqui há um sol dentro de mim que nunca existiu antes, uma paz que eu não conhecia e que existe desde o momento em que pela primeira vez na minha vida depois da tormenta toda eu pude me olhar no espelho e finalmente e pela primeira vez na vida, eu me vi de verdade!! EU... VERDADEIRA... ÚNICA... COMO NUNCA FUI PORQUE NASCI IMPEDIDA DE ME VER... MAS EU VENCI!! EU FUI GUERREIRA, EU SOU GUERREIRA, E HOJE FINALMENTE EU ESTOU VIVA!! Eu pude voltar a ser criança, eu pude finalmente estar sana, estar sã, estar curada...

Eu não sabia como falar isto, e eu nem sei se você vai perceber que eu estou falando sim com você... eu não sei se um dia você vai erguer mais uma pilastra para construir uma nova ponte para atravessar o oceano que se formou entre nós, eu não sei, mas eu precisava colocar isto para fora, eu precisava finalmente falar, mesmo que você não vá ouvir, e fechar este livro velho na minha vida.

Eu vi você erguer uma pilastra e me pareceu que era a intenção de construir uma nova ponte no lugar da ponte que ruiu, pois bem eu também ergui uma pilastra para esta nova ponte, cabe a você erguer outra pilastra, mas eu não sei se é isto mesmo que está acontecendo, eu precisava apenas falar que hoje não sou mais insana, hoje eu estou in sana...

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